Depois daquela “picadinha sem vergonha”, certamente, nada poderia ser pior naquele dia. Sim, havia o medo. Um baita medo, diga-se de passagem. Depois da conversa com o dr. Renato Barra (depois eu conto), até fiquei um pouco mais tranquila, mas ainda estava preocupada com a anestesia geral, afinal, levemente hipertensa, acima do peso e levando uma vida sedentária, eu não tinha exatamente o perfil da paciente mais almejada por cirurgiões e anestesistas. Sem contar que eu ainda tossia um pouco e ficava imaginando se me desse uma crise de tosse no centro cirúrgico.
Saímos do IMEB, passamos rapidamente em casa pra pegar a parafernália hospitalar (roupa, notebook e otras cositas mas) e fomos pro Hospital Santa Helena. A Carol faria companhia pra Beth durante a cirurgia.
Subi até o andar “x”, que não me lembro qual, e entrei no centro cirúrgico, uma ala bem fria - no sentido térmico da palavra -, com uns 20 leitos de pós-operatório e umas dez salas de cirurgia, uma ao lado da outra. Logo vi o dr. Farid, dr. Soares e a dra. Isabela e me tranquilizei. Troquei de roupa e coloquei um hiper fashion avental cirúrgico amarelo gemada, aquele sapatinho azul frufru com elástico e fui andando até a “minha” sala, onde seria a operação. Lá já estavam o anestesista, instrumentadora e enfermeiras. Achei a sala interessante, com mil equipamentos, mesas de apoio, aparatos... Me senti mais segura.
Fotos para o book
Eu já estava me deitando quando fui interrompida para a “sessão fotos book”, ou seria pra Revista Playmama? Os médicos iriam fazer fotos do “antes”. Desci da cama (maca?) nua em pelo, bem constrangida, eu diria, com aquele povo todo circulando. Aí a dra. Isabela, super fofa, meio que improvisou uma saia com o lençol. Tiradas as fotos, de vários ângulos, voltei pra cama (maca?).
Antes de colocar a máscara de oxigênio com o “sossega leão”, houve um momento em que todos foram para um canto da sala pra conversar ou sei lá o quê. Levantei a cabeça e vi aquela turma de médicos e auxiliares, todos de avental e pensei, olhando aquela imagem, que me remeteu a uma pintura da Capela Sistina: “Essas pessoas com essas roupas claras e compridas estão parecendo anjos, que vieram pra cuidar de mim e me curar”. Nesse momento, me deu uma sensação tão tranquila, mas tão tranquila, que me lembro até de ter dado um sorriso pra mim mesma - e praqueles que certamente estavam espiritualmente comigo - e de ter agradecido por estar tendo a chance que muitos não têm de ser tratada. Bem tratada. Recostei a cabeça relaxada. A dra. Isabela não saiu do meu lado, segurando a minha mão, enquanto eu era sabatinada pelo anestesista e “amarrada” pelos enfermeiros. Paralelamente, ela e o dr. Farid começaram a busca pelo linfonodo sentinela, conforme expliquei em post anterior. O anestesista colocou a máscara e pediu pra eu contar até 10, lentamente. Em vez disso, comecei a rezar, a ouvir o “pi, pi, pi” do aparelho e, beeeem de longe, as vozes do dr. Farid e da dra. Isabela: “acho que está aq...”. E apaguei!
Onde estou? O que aconteceu? É tudo tão estranho...
Fui acordar, sete horas depois, com a meiguice e delicadeza da Dandi (enfermeira da UTI pós-cirúrgica - cunhada da Sara, estagiária de jornalismo da Acme/Mútua) me cobrindo, aquecendo meu pé e perguntando se eu me sentia bem. Incrível, mas depois de uma anestesia de sete horas, eu abri os olhos e disse pra ela: “Você é a Dandi, né?”. Não me perguntem como fui me lembrar até do nome dela, que tinha escutado uma única vez, quando a Sara me contou que era o plantão da cunhada. Curioso, também, foi a minha consciência absoluta da situação em que eu estava. Me lembro bem de ter perguntado até se eu tinha passado pelo esvaziamento axilar, uma preocupação anterior. Ela me disse que não houve o esvaziamento e que estava tudo bem. Mas esse nível de consciência durou pouco.
Não passou muito tempo e fui levada de maca pro quarto onde, eufóricas e ansiosas, estavam Beth e Carol. Aí veio meu estado hiper-grogue. Com a voz rouca, em função de ter sido entubada, pedi pra Carol pegar um tal “batom bordô” (não faço a menor ideia de onde tirei isso) e, ao telefone com minha mãe - que estava em Sampa e que se não ouvisse minha voz ia ter um treco - eu insistia em dizer que “estava no cabeleireiro, com tratamento VIP” – vai entender o efeito pós-anestésico... Abaixo as drogas! re re re...
Depois, soubemos que minha mãe tinha certeza de que, ao telefone, era a Beth imitando a minha voz, só pra tranquilizá-la.
Muitas picadinhas, um dreno, uma sonda, um banho e um curativo depois, tive alta na tarde do dia seguinte, alta dada pelo dr. Nataniel Soares.
“Não tenho medo do escuro... mas deixe as luzes acesas.” - Renato Russo
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