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sábado, 27 de novembro de 2010

Pausa pra festa

A festinha do dia seguinte foi ótima e ajudou bastante a fazer com que o meu “probleminha” não ficasse 100% nas nossas cabeças. Não comentamos com quase ninguém. Primeiro, pra não atrapalhar o momento de alegria da comemoração dos 10 anos do Angelo. Segundo, porque eu achei melhor esperar, até que as coisas estivessem mais definidas. Pra que deixar um monte de gente preocupada antecipadamente, né? Mas, mesmo assim, não dava pra tirar o fato da cabeça.
Festinha deliciosa e Angelo feliz, ao lado de sua mamãe Mariangela, da vovó “Fada” (Mafalda) e da vovó Carmen; a família estava toda lá




"E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão" - Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Viagem a Sampa: momento de dar a notícia

Passei o vôo todo ensaiando em pensamento como contaria o fato pra minha mãe. Primeiro, tinha de me controlar pra não começar a conversa por baixo. Mas também tinha de ser direta, pra evitar enrolações, o que poderia ser pior. Desci do avião, respirei fundo e liguei pra casa, pois minha irmã Beth, que mora numa cidade da Grande São Paulo, estaria na casa da minha mãe e iria me pegar no aeroporto. Entrei no carro e a Beth e minha mãe estavam super animadas com a festinha do dia seguinte, falando sobre como estava o salãozinho, a decoração, as comidinhas e docinhos que seriam servidos.

A Beth queria nos deixar na porta do prédio e ir embora. “NÃO!” - eu praticamente gritei, tentando convencê-la a subir. Claro, seria muito mais fácil falar pras duas de uma vez e contar com a presença dela no momento em que desse a notícia da biópsia pra minha mãe. Assim que entramos em casa, onde a Isa, minha sobrinha, nos esperava, elas perguntaram sobre o resultado. Ainda em pé, eu disse, tentando parecer a coisa mais natural do mundo: “Então, deu uma coisinha. Vou fazer uma cirurgia pra retirar um pedacinho do seio, perto de onde estava o nódulo já retirado e depois, radioterapia. Mas não é nada tão sério assim.” Como??? Mãe, irmã e sobrinha com cara de “O QUÊ?”. Bocas abertas e olhos arregalados. Queriam detalhes, porque não estavam entendendo ou acreditando no que eu dizia.

Foi um momento meio que de consternação. Mas eu tentei deixá-las tranquilas. Uma das primeiras perguntas da minha mãe foi: “Mas não vai precisar de quimioterapia, né?”. Curioso como a palavra “quimioterapia” pesa, assusta e como tem a mesma carga assustadora da palavra “câncer”...

Não, Mã! Só radioterapia, porque o nódulo só tinha um centímetro”, eu disse, tentando, também, me convencer de que seria isso mesmo. Ela ficou menos assustada porque, há cerca de três ou quatro anos, havia levado uma prima dela, a “tia” Elza, a todas as sessões de radioterapia e tinha presenciado que não era tão agressivo quanto a químio. Minha irmã e sobrinha foram embora e eu e minha mãe fomos “dormir”. Naquela noite ninguém dormiu.


"Por mais que a noite seja longa, o amanhecer chegará."

Cheguei em casa e abri a geladeira pra pensar

Era hora do almoço. Cheguei em casa ainda desnorteada, pra pegar a mala pois, naquela noite, iria pra Sampa. No dia seguinte era a festinha de dez anos do meu sobrinho Angelo, que seria no salão do prédio da minha mãe.

Não sabia se pegava a mala, se chorava, se abria a geladeira pra pensar. Aí, tive o insight de ligar pra minha amiga Miriam, em São Paulo, que havia passado pela mesma situação anos atrás e que, certamente, entenderia como eu estava e teria alguma coisa boa pra dizer. Quando comecei a falar com ela, mesmo ouvindo as palavras certas, no tom certo e confiando na sua experiência de superação, mal conseguia falar. Um nó - daqueles bem enroladinhos - amarrava a minha garganta. Depois de alguns minutos de prosa, ela conseguiu me deixar mais tranquila.

Um pouquinho depois, toca a campainha de casa: Carol (“filhota” da Acme). Ela não quis me deixar sozinha, depois do doce torpedinho. Pegamos a mala e fomos pra Mútua - eu sairia de lá no fim do dia diretamente pro aeroporto.

Cheguei na Mútua e quando entrei na Acme foi uma choradeira contida. Nem eu nem o pessoal sabíamos se era pra chorar, abraçar, falar alguma coisa ou simplesmente trabalhar, como se nada tivesse acontecido. Foi esse clima até o final do dia, quando segui pro aeroporto.


“Existem tantas noites como dias e cada uma dura o mesmo que o dia que vem depois. Até a vida mais feliz não pode ser medida sem alguns momentos de escuridão; e a palavra ‘feliz’ perderia o sentido se não estivesse equilibrada pela tristeza.” - Carl Jung

Tá! E agora?

Ele foi super delicado ao explicar tudo, dizendo, inclusive, que era muita informação pra assimilar e que nós ainda conversaríamos muito e que ele teria todo o tempo pra mim, pra qualquer dúvida que eu tivesse, naquela hora ou depois. Otimista, sem deixar de demonstrar preocupação com o diagnóstico, disse que faríamos a cirurgia no seio esquerdo, mais exatamente: quadrantectomia (retirada de um quarto da mama), mamoplastia (redução), implantação de prótese (silicone) e biópsia de linfonodo sentinela. Enquanto falava, desenhava tudo - será que é porque sou loira? 


Bom, ele disse que seriam feitas, também, mamoplastia e implantação de prótese no seio direito (que não tinha nódulo), pra simetrização. Indicou o cirurgião plástico de sua própria clínica pra cirurgia de ambos os seios. Explicou que dependendo principalmente do resultado do “sentinela”, eu teria ou não de fazer esvaziamento da axila e quimioterapia. Mas adiantou que eu não escaparia da radioterapia.

O dr. Farid disse ainda que seria importante levar em conta que o tipo de câncer diagnosticado tinha um ótimo prognóstico de cura, desde que com tratamento e acompanhamento corretos. Eu tentava digerir tudo isso e ele ia imprimindo um montão de solicitações de exames e outros encaminhamentos. Eu faria os exames no mês de dezembro e marcaríamos a cirurgia no início de janeiro.

Ao sair do consultório ele me deu um abraço. Saí meio desnorteada, entrei no carro, chorei pra burro e, quando os olhos ficaram menos encharcados e eu consegui ver alguma coisa, mandei um torpedo pro pessoal da Acme (Assessoria de Comunicação, Marketing e Eventos da Mútua - meus “filhotes”), que tinha ligado trocentas vezes pra saber sobre a consulta. Escrevi duas singelas e delicadas palavrinhas básicas: “deu merda!”. Simples assim.

"Minha mãe sempre me dizia que a vida é como uma caixa de bombons, nunca se sabe o que vai encontrar" - Forest Gump (personagem do filme que leva o mesmo nome)

“La noticia no es muy buena, Margareth..."

“... pero tambien no és tan malo.”

Assim, fiquei sabendo pelo dr. Farid Buitrago (com seu inconfundível sotaque colombiano) que a biópsia feita por ele no início de novembro havia apresentado resultado positivo pra “carcinoma”, mas que era pequeno (1 cm) e do tipo não invasivo. Ou seja, era câncer, mas não dos mais agressivos.

Incrível! Essa informação estava logo na primeira linha do resultado da biópsia: “Carcinoma ductal infiltrante”. Quem disse que eu tinha lido isso quando abri o exame? A palavra “carcinoma” se repetia pelo menos três vezes. Quantas eu li? Zero! Meu anjinho da guarda deve ter apagado temporariamente isso pra eu não ver o resultado sozinha. De fato, ser comunicada que está com câncer pelo médico é, digamos, mais “saudável”.

Enquanto ele falava, eu, boquiaberta, praticamente sem ouvir direito o que ele dizia. Tipo: “Como assim? Não era nada disso que eu estava programada pra ouvir”. Sim, perdi o chão. Caramba! E eu que tinha certeza de que não daria nada...


O melhor cego é aquele que não quer ler!



"No meio do caminho tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do caminho.
E eu nunca me esquecerei
Que no meio do caminho tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do caminho." - Carlos
Drummond de Andrade

A primeira linha do resultado da biópsia escafedeu-se!

No dia 26 de novembro o resultado da biópsia seria entregue pelo laboratório no consultório do masto. Porém, quando cheguei à consulta, o resultado ainda não estava lá. Como o laboratório é bem pertinho, decidi eu mesma retirá-lo no laboratório e levá-lo ao médico. Peguei o exame. “Lê-lo ou não lê-lo, eis a questão”. Hesitei, mas, por fim, abri o envelope.

Dei uma olhada geral e rápida. Muitas linhas com um monte de nomes e números estranhos. Meus olhos não se concentravam em linha nenhuma nem na “conclusão”. Tudo esquisito. Li e não entendi nadica de nada. Well, vamos levar pro médico.


“Viver não é esperar a tempestade passar. É aprender a dançar na chuva.”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

NA... NA... NA... NANANANA...

21 de novembro de 2010: finalmente, o show!
Claro que eu estava lá, com a Monikinha, Lucas, Lívia e mais uns 70 mil fãs.


* Senti falta da fanzoca e “irmiga” Zezé, com quem eu tinha ido ao show do Paul, em 1993. Primeiro show de um Beatle a gente nunca esquece, né, “Mari-Jô”?

sábado, 6 de novembro de 2010

Cirurgia pra biópsia

No dia 6 de novembro, fui pro hospital (com a “filhota” Rose - explicação sobre meus “filhotes” nos próximos posts) e me internei. Somente na hora em que estava indo deitada na maca pra sala de cirurgia, vendo as luzes do teto passando, passando, passando, é que me dei conta de que estava mesmo a caminho de uma cirurgia. Nessa hora caiu a ficha e fiquei com um medão danado. No fim, a cirurgia foi simples, com anestesia local (a tonta aqui não fez o jejum correto e nem um “sossega leão” me deram - em minha defesa de loira, alego que não fui bem orientada pelo hospital). O resultado sairia só no final do mês. Sete dias de licença.

Pra não assustar minha mãe e a família, que estavam em S.Paulo, minimizei ao máximo esse procedimento. “Coisinha simples, Mã, feita no consultório, mesmo...”. Na época, a imprensa noticiava nacionalmente o grande número de casos de “super bactéria” em hospitais de Brasília e a família ficou preocupadíssima. Imagina se a dona Mafalda (a “mia mama”) soubesse antes que eu faria o procedimento num hospital!? Cruzes!



“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas” - filósofo Horácio

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Como tudo começou

No meu caso, relaxei um pouco, por não sentir nada palpável nos autoexames (falando nisso, ô coisinha chata de fazer esse autoexame; acho que nunca consegui fazer direito). Também não tinha nenhum caso de câncer na família direta. Bom, quando me mudei pra Brasília, em setembro de 2007, deixei passar dois anos, além do ano em que já estava atrasada com meus exames desde São Paulo, até procurar um ginecologista/mastologista de Brasília - um excelente médico, diga-se de passagem: dr. Farid Buitrago. Fiz exames em geral, alguns procedimentos clínicos e mamografia. E a BENDITA mamografia (sim, BENDITA!) identificou um nódulo de aproximadamente um centímetro no seio esquerdo confirmado, depois, com o ultrassom.

Ele me pediu, então, uma biópsia por punção (procedimento com agulha, guiado por ultrassonografia - veja link), que deu resultado negativo. Meu mastologista explicou depois que esse exame não era cem por cento confiável e que repetiríamos a mamografia poucos meses depois pra acompanhar, principalmente, o tamanho do nódulo.


 VEJA O LINK


Passei um pouco do prazo pedido pelo masto, mas refiz a mamografia. Fiquei feliz quando li no resultado que não havia sido registrada alteração no tamanho e cheguei saltitante pra consulta. Doce ilusão. Mesmo assim, ainda desconfiado da imagem, meu mastologista disse: “Não marque nada pro dia 6 de novembro, vamos fazer uma cirurgia para biópsia”. Ou seja: dez dias depois.


Acreditem, minha certeza de que não haveria nada era tão grande, que a maior preocupação, naquele momento, foi não perder o show do sexagenário e ainda fofo Paul McCartney, em São Paulo, no dia 21 (15 dias depois), cujo ingresso já estava nas mãos da minha amiga Monikinha. Quando o dr. Farid disse que eu estaria liberada pra viajar e ir ao show nessa data, fiquei ótima e até deixei de lado a preocupação com a biópsia. Coisas de beatlemaníaca.



”O riso alegre é o melhor tônico que a natureza nos concedeu.”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Entrei pras estatísticas

Não sei porque se diz “câncer de mama” e não “câncer de seio”. Mas isso não muda nada: fui diagnosticada, em novembro de 2010, como portadora desse câncer.

Um pouco de números. As estatísticas afirmam que uma em cada 11 mulheres brasileiras deverá desenvolver esse tipo de câncer. No País, a cada ano, são cerca de 50 mil novos casos diagnosticados - o meu é apenas um entre todos esses. O índice é maior nos Estados do Sul e Sudeste. Só que esses números são muito maiores, se considerarmos a dificuldade de acesso de muitas mulheres a consultas, exames e tratamentos - logo, as estatísticas não são exatamente essas.
Meg também é cultura e informação!
O câncer de mama é considerado de bom prognóstico se diagnosticado e tratado precocemente (também vou estar NESSAS ESTATÍSTICAS). Por isso a importância de se fazer o autoexame todos os meses, exame clínico (feito pelo médico), mamografia (é um porre, mas um porre necessário) e/ou ultrassonografia, as duas últimas solicitadas pelo médico, normalmente a cada dois anos, após os 40 anos, e todo ano, após os 50 anos, claro, dependendo de cada caso.

Não que antes disso a mulher não deva se preocupar. Tenho lido tantos depoimentos e blogs de mulheres na faixa etária de 30 anos com câncer de mama, mesmo sem antecedentes familiares, que acho que todas as mulheres devem estar atentas desde sempre. Nasceu mulher, começa a preocupação!

"Quando recebemos um ensinamento devemos receber como um valioso presente e não como uma dura tarefa. Eis aqui a diferença que transcende." Albert Einstein