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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Viagem a Sampa: momento de dar a notícia

Passei o vôo todo ensaiando em pensamento como contaria o fato pra minha mãe. Primeiro, tinha de me controlar pra não começar a conversa por baixo. Mas também tinha de ser direta, pra evitar enrolações, o que poderia ser pior. Desci do avião, respirei fundo e liguei pra casa, pois minha irmã Beth, que mora numa cidade da Grande São Paulo, estaria na casa da minha mãe e iria me pegar no aeroporto. Entrei no carro e a Beth e minha mãe estavam super animadas com a festinha do dia seguinte, falando sobre como estava o salãozinho, a decoração, as comidinhas e docinhos que seriam servidos.

A Beth queria nos deixar na porta do prédio e ir embora. “NÃO!” - eu praticamente gritei, tentando convencê-la a subir. Claro, seria muito mais fácil falar pras duas de uma vez e contar com a presença dela no momento em que desse a notícia da biópsia pra minha mãe. Assim que entramos em casa, onde a Isa, minha sobrinha, nos esperava, elas perguntaram sobre o resultado. Ainda em pé, eu disse, tentando parecer a coisa mais natural do mundo: “Então, deu uma coisinha. Vou fazer uma cirurgia pra retirar um pedacinho do seio, perto de onde estava o nódulo já retirado e depois, radioterapia. Mas não é nada tão sério assim.” Como??? Mãe, irmã e sobrinha com cara de “O QUÊ?”. Bocas abertas e olhos arregalados. Queriam detalhes, porque não estavam entendendo ou acreditando no que eu dizia.

Foi um momento meio que de consternação. Mas eu tentei deixá-las tranquilas. Uma das primeiras perguntas da minha mãe foi: “Mas não vai precisar de quimioterapia, né?”. Curioso como a palavra “quimioterapia” pesa, assusta e como tem a mesma carga assustadora da palavra “câncer”...

Não, Mã! Só radioterapia, porque o nódulo só tinha um centímetro”, eu disse, tentando, também, me convencer de que seria isso mesmo. Ela ficou menos assustada porque, há cerca de três ou quatro anos, havia levado uma prima dela, a “tia” Elza, a todas as sessões de radioterapia e tinha presenciado que não era tão agressivo quanto a químio. Minha irmã e sobrinha foram embora e eu e minha mãe fomos “dormir”. Naquela noite ninguém dormiu.


"Por mais que a noite seja longa, o amanhecer chegará."

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